sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Amor-diamante

(imagem Google Search)

Meu diamante se quebrou!
Sim quebrou. E diamantes não quebram, aprendi isso na escola.
Era legítimo, tinha até certificado de um geólogo.
Poxa ele era tão bonito, tão claro, tão raro...
Eu estava lá quando ele foi produzido, nasceu da pressão dos nossos corpos a base de carbono.
E agora que tu foste embora, como farei outro?
Era-me tão especial... meu diamante.

Luto

(imagem Google Search)

Lancei ao vento meus frutos incertos:
ilusões e sonhos impossíveis,
esperanças e amores desfeitos.

Vesti meu luto, fiz-me pálida,
como se tivesse realmente
perdido alguém querido. Olheiras...
manchas negras cimentadas
sobre as maças do rosto.

Consternei-me da minha própria falácia
e petrifiquei diante da minha mágoa.

E agora, sorrateira e muda, perambulo
pelas paragens atrás daqueles que arremessei,
tentando juntar os cacos de mim,
para tirar o negro pesado da minh’alma.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Fluidez

(foto: Google Search)

Escorre de mim,
das vertentes esquecidas,
uma profusão.
Minha lucidez liquefeita
molha-me a face,
as vestes,
os pés.
E no chão:
a poça,
que mesclada ao pó
do pensamento fez-se barro.
Moldarei um jarro
e nele colocarei minhas idéias
insanas e torpes
em sementes germinadas
dos meus momentos de solidão.
Florescerá minha loucura em flor,
tornando-se o centro dos meus cuidados.
A mim só falta escrever um livro.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Relicário

(foto: João Félix - Vendo de olhos fechados)

Guardo a imagem,
num pingente brilhante
escondido no fundo dos olhos.

Preservo a lembrança,
como um beijo doce
de uma paixonite adolescente.

Encontro no peito,
o sagrado amor
que te dedico.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Eternidade

(foto: João Sargo - O amor não tem idade)
Perdera sua companheira. Há 60 anos mantinha uma estreita relação entre o amor e o ódio para com ela. Ele amava seus cabelos brancos e odiava a falta que ela lhe fazia. Ainda mantinha seu lugar posto à mesa, seu espaço na cama, seus chinelos e chambre no banheiro, até a escova de dentes no mesmo lugar. Ao por a roupa na máquina de lavar sempre punha roupas dela junto, mesmo que limpas, para fazerem companhia as dele.
Os vizinhos estranhavam as roupas estendidas, as conversas animadas e a música que vinham de sua casa.
Para amenizar a solidão era isso que fazia, ligava seu radinho nas músicas preferidas dela, falava alto sobre como a música lhe fazia bem, por vezes rodopiava pela casa segurando um vestido dela, e depois de muito dançar deitava ansiando sonhar com ela.
A Vida lhe sorriu com uma imensa felicidade em vida que a Morte num ato de inveja boa e solidariedade levou-o logo para o encontro dela.
Chegando lá ela lhe sorriu e enfim puderam novamente dançar.
Se perguntares à Morte qual foi o intuito do repentino ingresso dele no céu ela diria:

_ Eu o via dançar num misto de esperança e saudade enquanto ela sorria esperando-o na entrada do portão, às vezes a via rodando também. Só queria ver os dois dançando juntos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Ensaio a dança comum

(foto: Catarina Krug - Alma que Dança)

Nos tênues fios que em abraço nos envolve,
perco-me em arroubos de euforia num enlace
que chega a sufocar. Encanto-me.
Ah, os finos traços de tua beleza juvenil!

Bailamos a sombra de nossos corpos
na melodia do silêncio sepulcral,
e perdemo-nos no joguete dos membros

Por fim desapareces entre a luz matinal.
Permaneço à espera do teu retorno.

Minha solidão não é ferida a ser curada.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Inquietude

(foto: Tatiana - Cocoon)

Explode n’alma, ecoa ao vento.
Vinda de poços escuros, distantes...
profundos. Ressurge ignóbil.

Com ardor, fúria e rigidez ataco aos prantos
tanta sobriedade camuflada, rebuscada de
tempos em que a inocência fez-me refém,
e deflorada fui na essência, extirpada da
ignorância infanto-juvenil.

Procuro manter-me / conter a fera agitada,
penso em mudanças / acalantar o íntimo irrequieto,
busco serenidade / para enfim ter a brandura pueril.