quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Eternidade

(foto: João Sargo - O amor não tem idade)
Perdera sua companheira. Há 60 anos mantinha uma estreita relação entre o amor e o ódio para com ela. Ele amava seus cabelos brancos e odiava a falta que ela lhe fazia. Ainda mantinha seu lugar posto à mesa, seu espaço na cama, seus chinelos e chambre no banheiro, até a escova de dentes no mesmo lugar. Ao por a roupa na máquina de lavar sempre punha roupas dela junto, mesmo que limpas, para fazerem companhia as dele.
Os vizinhos estranhavam as roupas estendidas, as conversas animadas e a música que vinham de sua casa.
Para amenizar a solidão era isso que fazia, ligava seu radinho nas músicas preferidas dela, falava alto sobre como a música lhe fazia bem, por vezes rodopiava pela casa segurando um vestido dela, e depois de muito dançar deitava ansiando sonhar com ela.
A Vida lhe sorriu com uma imensa felicidade em vida que a Morte num ato de inveja boa e solidariedade levou-o logo para o encontro dela.
Chegando lá ela lhe sorriu e enfim puderam novamente dançar.
Se perguntares à Morte qual foi o intuito do repentino ingresso dele no céu ela diria:

_ Eu o via dançar num misto de esperança e saudade enquanto ela sorria esperando-o na entrada do portão, às vezes a via rodando também. Só queria ver os dois dançando juntos.

Um comentário:

  1. Já te disse desse "microconto". Para mim, ficou muito claro que o egoísmo da morte foi bom para o casal. Gostei demais disso. Dessa idéia sugerida de que a morte poderia ter vícios e virtudes. Esse vai pro nosso blog! Bjins, BSF! Amotu! Matadora!

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Obrigada pelo comentário, deixo meu beijo antecipado. Volte sempre!!!