Maria, quando criança, em uma das viagens de férias da família, passou em uma pequena loja à beira da estrada estadual que nunca lhe saiu da cabeça. Hoje aos 37 anos lembra bem de todos os detalhes: dos tapetes de peles de boi e ovelhas, das tapeçarias, prataria, conservas de todos os tipo e cores, licores, artigos de churrasco, cachaça de alambique, queijos coloniais, doces em tabletes e compotas, peças de madeira entalhadas e cestaria. Lembra de tudo com tanta particularidade, lembra do cheiro, do pó nos enfeites, da senhora sentada num banquinho no canto da porta e a seus pés vários potes e tigelas de barro, pelo menos eram o que pareciam.
Lembra também de sua mãe, curiosa, perguntando tudo, queria saber pra que servia cada peça exposta naquela pequeno espaço, até que por fim se ateve as peças acomodadas aos pés da velha senhora.
_ Pra que servem essas peças, são vasos de flores? - perguntou a mãe de Maria.
_ Não senhora, são panelas e formas de barro, servem para cozinhar, são muito especiais. - respondeu a senhora
A mãe de Maria não acreditou, afinal cozinhar em barro, sim pois era isso que era afinal, barro seco, não interessa como era feito, barro é sujeira. Não quis desfazer da senhora, afinal ela tinha idade, e aprendera a respeitar os mais velhos, mas pra panelas aquilo não servia. Muito contrariada levou uma forma já que Maria encantada com aquilo, dizia que queria provar uma comida feita ali. A tigela tinha uns 25 cm de diâmetro e uns 15 cm de altura, a mãe de Maria já pensava no que por dentro da vasilha e Maria sonhava com o banquete a ser feito naquela forma.
Bom anos se passaram, a mãe de Maria nunca fez nada com aquela forma, apesar das investidas da filha, chegou a esconder para que não voltasse a perguntar. Até que dias antes de se casar Maria a encontrou no fundo de um armário pouco usado pela família, pegou-o e colocou junto com suas coisas que iam para sua casa nova. Deixando por muito tempo guardado, não sabia exatamente como usá-la.
Pesquisou, revirou receitas antigas, e finalmente descobriu como usar a forma de barro, comprou os ingredientes, convidou os familiares, seria um evento especial, finalmente provaria a comida feita na forma, tão sonhada, tão presente em sua infância.
Tudo estava pronto, mesa posta, família reunida, flores, bebidas, risos das crianças correndo, brincando, conversas dos adultos empolgados querendo saber o motivo da festa, o porque de estarem reunidos fora de data festiva. Finalmente Maria entra na sala de jantar com a forma nas mãos, sorridente que só ela, sua mãe ficou de olhos arregalados.
Todos sentaram-se a mesa, serviram-se, e deliciaram-se com cada iguaria preparada, e provaram o prato especial feito na forma de barro. Maria à cabeceira da mesa, olhava satisfeita para todos. Percebeu enfim porque os utensílios de barro são tão especiais, unem as pessoas, deixam a todos felizes, compartilhando os sentimentos bons.
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