quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Sementes

J
O
G
U
E
I

AO

V
E
N
T
O

AS

S
E
M
E
N
T
E
S
de minhas ilusões, nasceram sonhos, delírios,
devaneios, todos vívidos,
tão sentidos. Semeei
por tanto os anseios,
e muito fortes cresceram,
alguns arrancados foram,
por anônimos passantes,
outros permaneceram
a embalar os amantes.
Frutos e mais frutos deram
os vingados que plantei,
mas o que muitos não sabem,
nem sequer desconfiam
é que na verdade fora as joguei.
Pois de ilusões não queria a minha vida preencher,
mas depois de sua saída, só, infinitamente só, fiquei.



(foto:Gregória Correia)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Dias melhores


Da lágrima que escorre agora - o alivio previsto.
Sai a dor, a retina cansada, faço um oceano de meu pranto escorrido.
Meus globos oculares iguais a naus perdidas orando a Poseidon por clemência.
Chove a cântaros em meu coração e transborda a face, chove meu martírio e agonia.
Mas vejo, mesmo entre toda essa solução salina, você.
Que vem para enxugar minhas perturbações.
Da lágrima que escorre agora - o alivio previsto.
(foto: Sofia Afonso)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Novos ares...

E de súbito abro as cortinas escuras.
Já empoeiradas pelo tempo estavam.

Mas o sol entrou pela janela e mesmo
com os vidros sujos se fez resplandecer.

Tudo ganhou vida num instante,
iluminando meu dia, minha casa, minha vida.

Novos ares precisava, para tanto, abri as janelas.

Ah, vida nova, brisa fresca, leve embora,
sim leve agora, a poeira da casa, dos móveis,
e os acúmulos de escuridão da minha alma esquecida.

sábado, 25 de outubro de 2008

Pingou...

(foto: José Meneses - Splash)

Respingou na tela,
e as cores surgiram,
e tomaram formas ,
e o mais singelo nasceu.
Nasceu o amor dos sonhos,
o amor de Eros,
o amor do infinito,
o amor do inimaginável.
Os respingos, meu suor,
minha dedicação,
minha meditação,
meus sentimentos.
E se tudo isso não bastasse,
se pouco parecesse,
estaria lá em tela, registrado,
para todos que quiserem (conseguissem) apreciá-lo.



sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sobre o que há...

Existem:
idas e vindas.
Pessoas:
saudosistas,
intimistas,
solistas
ou serão individualistas?
Santas e loucas,
dadivosas e contidas,
perenes e superficiais.
Meninas-mulheres,
homens-moleques,
e seus sonhos
coloridos,
fantasiosos,
irresistíveis.
Suas histórias de vida,
de amores e desilusões.


Sobre o que há muito se tem a dizer,
porém é melhor sentir o vento...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Quero ar... (Súplica Libertária)

Preciso de ar...
Um ar novo,
fresco...
Espaço aberto
arejado,
nada rarefeito,
sem efeito,
onde o feito
seja obscuro,
obtuso,
recluso.
Me recuso!

Quero ar!
Brisa ou ventania...
Pouco importa!
Quero imensidão,
amplitude,
atitude!
Altitude? Talvez!
Longitude? Nem tanto.

Serei um ser alado... livre.
Quero o ar da liberdade
de ser eu, mesmo
entre as paredes fechadas.

Não mais estar
enclausurada no intimo
sufocado do ser...
Não ao vácuo!
Não a clausura!
Não a morte lenta do sufocamento!

Quero ar...

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Choro

Vou cantar meu pranto.
Um choro contido,
chorado escondido,
de um tempo que foi
sem previsão de volta.
Choro cantado,
dor melodiosa,
cheia de harmonia e ritmo,
choro chorado,
pranto cantado,
enfeitado de dor.
Dor de amor!
Ou amor em forma de dor?
Ah, e as lágrimas brotam
e rios se formam
a regar esperanças perdidas.
Para delas florescer
flores roxas de martírio.
Do meu pranto contido,
choro escorrido,
lágrimas de amor.

Como?

Já não posso afirmar com tanta convicção...

Já não consigo dizer onde está meu coração!


A convicção da alma limpa,
da fronte erguida e serena.
Da certeza do amor infinito,
do coração preenchido,
do amor transbordante.


Como dizer que o amor é bem vindo e te olhar sorrindo se a certeza se foi?

Como dar-te na face um beijo e esperar que esse ensejo tenha um feliz fim?
Já não dá!

Dor indócil.

A dor invade meu ser,
dilacera o peito que insone
murmura por piedade.


Gostaria tanto de ter
um amor forte que consome
e não essa dor, essa fragilidade.


Frágil sim, sou! A dor esfacela-me,
fico dormente diante do mundo infame,
tento mexer-me, mas meus membros...
Ah, como dói a inércia da alma.


Fico em meio aos escombros de mim mesma,
desmazelada pelo sofrimento indócil.
Como animal ferido, acoado...
esperando a dor ir-se embora!

Digitais



Nas palmas de tuas
mãos, o mundo ganha
asas e cores sem fim.



(foto: Thiago Pedro Pinto - Duas mãos)







Lembranças

No espelho o reflexo do passado,
os olhos distantes não enganam... flash back!
Venho percorrendo todas as fases,
revendo, lembrando...
A infância, as brincadeiras de criança,
o primeiro beijo, o primeiro amor,
a primeira desilusão. A primeira vez...
(é sempre marcante, mas não é única)


Que bom se fosse...


As lembranças ainda cercam, me rodeiam,
Embaralham minha memória.
O gosto acre da saudade me sonda.
Fantasmas da lembrança.

Vigia

Sucumbo a fadiga.
Fadiga do corpo, da alma.
Peço descanso, vele meu sono,
repouso em teu colo,
sinto teus dedos em meus cabelos.
Tão relaxante... (como é bom!)
Estou exaurida, minhas forças
me abandonaram...
dores múltiplas espalhadas.
Peço descanso... vele meu sono...

NAS ENTRELINHAS

Nunca dizemos tudo que desejamos.
Às vezes, deixamos no ar e
Simplesmente esperamos...


Em algum momento,
Não distante creio, irás perceber,
Terás nas mãos o conhecimento,
Reinará em si as respostas.
Enxergarás a verdade dita. Mais
Leve estarás por fim, não mais
Iludido ou inebriado.
Nas entrelinhas verás que o
Hoje é o mais importante! Que o
Amor é o sentimento mais digno, e
Saudade é a consequência de sua falta!

Renasci

De repente, sem querer,
quis fugir, me esconder,
ocultar de mim mesmo,
tudo deixar a esmo.


Distanciar-me da aflição,
do descaso, da traição,
do desamor, do desalento,
estive tão desatento.


Deixei meu coração minguar
e muitas vezes fiquei sem ar.
Pobre de mim, quase me extingui.


Mas tomei folego, busquei forças, sobriedade.
E mesmo sendo difícil encarei com seriedade.
E hoje brado a todos pulmões: - Consegui!

Poison

O mais forte veneno não é orgânico ou sintético, não pertence a algum animal ou foi fabricado. É sim sentimental.
O pior dentre todos é o amor, que mata aos poucos, deixando sua vítima a mercê de seu algoz.

Bubbles



Meu sonho de amor
desfez-se em brumas,
como bolhas de sabão
em tons fruta-cor.



(Foto: Teich - Bubbles.)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O cheiro do sangue e a falta de lágrimas

Meus olhos verteram suas primeiras e últimas lágrimas naquele dia, após o acontecido era como se não mais houvesse vida em meu peito. Eu não mais titubeava ante ao perigo, não havia mais duvidas em meu semblante, somente uma frieza sepulcral, uma certeza que nada de mal poderia me afetar mais do que o que já acontecera. Mas para que tudo seja explicado irei relatar alguns fatos que resultaram no que sou hoje.
Não fui sempre assim, já tive doçura no olhar, alegria sem fim, todos me admiravam pelas notas na escola, pela educação, bons hábitos e boa forma física. Era uma menina do tipo mignon, cabelos Chanel, castanhos, olhos também castanhos, boca pequena e avermelhada. Alguns diziam que a inocência não existia, era uma personagem minha e na verdade eu sabia ser atraente, que meu corpo era convidativo, mas juro, não tinha noção disso.
Ia pra escola sozinha todos os dias, passava sempre pelos mesmos lugares, cumprimentava a todos os passantes, afinal todos conhecidos. Mas algo novo acontecera naquela manhã de outono, em uma casa há muito tempo vazia havia uma movimentação incomum, caminhões, carros, falatório, uma família, 5 pessoas, um casal, três filhos, dois meninos e uma menina de minha idade. Fiquei encantada com a movimentação e a alegria, nunca havia visto uma mudança antes e a alegria da família era contagiante. Não prestei atenção na fisionomia de ninguém só na euforia. Dia após dia voltaria a vê-los com frequência, dois dos filhos do casal, passariam a estudar na mesma escola que eu estudava a menina na mesma turma que eu, o menino uma adiante. O outro filho do casal já havia se formado no ensino médio, estava estudando pro vestibular e trabalhava pra ajudar em casa. Notei que todos eles eram bonitos, educados, encantadores. Passei a ter companhia pra escola todos os dias.
Frequentava a casa deles, comia entre eles, e vez por outra dormia na casa deles. A menina, o irmão do meio e eu éramos muito amigos, o mais velho nunca via quando ia até lá, sempre trancado estudando, ou trabalhando. O casal sempre fora acolhedor, a mulher linda e dedicada, o homem, gentil e elegante. Era a família perfeita, todos diziam, eu dizia. Mamãe era encantada com eles.
Mas tudo mudou quando o conheci, o irmão mais velho, lindo, desajeitado, despenteado, estava sentado tomando seu café, estava de folga aquela manhã, então se deu o luxo de sentar e apreciar o café que sua mãe preparara, normalmente não lhe sobrava tempo para o convívio familiar. Ele me olhou e sorriu espantado, nunca havia me visto, só sabia quem eu era por ouvir falar de soslaio. O engraçado é que depois disso percebi que ele parava mais em casa e eu saia mais cedo de casa pra tentar vê-lo ainda em casa. Com o tempo os outros começaram a perceber. A menina, até então minha amiga, começou a se tornar hostil, brigávamos por bobagens, ela me proibia de entrar em sua casa, não queria minha proximidade com seu irmão mais velho, puro ciúme, mas eu não imaginava que esse ciúme tivesse consequências tão drásticas.
Passei a ouvir fofocas sobre mim na escola, os meninos passaram a mexer comigo na escola e na rua, as meninas me olhavam torto, diziam que eu devia ter vergonha. Eu sinceramente não entendia do que estavam falando até ser chamada na direção, onde um professor e uma orientadora resolveram me dar uma aula de bons modos e educação sexual, eu os olhava admirada e sem entender. Foi então que eles me disseram que a maneira que eu estava tratando meu corpo ainda ia me trazer prejuízos, afinal drogas e sexo com qualquer pessoa poderia haver descuidos e sexo sem proteção pode ter por consequência uma doença sexualmente transmissível. Foi então que minha ficha caiu, e eu de surpresa levantei e perguntei o porquê eles estavam me dizendo isso, se eu nunca tinha entrado em contato com tal coisa. Ficaram indignados afinal estavam todos falando sobre isso na escola, mas reafirmei não estar sabendo de nada e também nunca ter participado de nada do gênero. - Nem namorado eu tenho. – dizia a eles. Chamaram minha mãe na escola, contaram do boato, ela fez questão que eu fizesse exames médicos e toxicológicos, levou os resultados à escola e esses tiveram que aceitar e tentar amenizar o estrago feito pelo disse-me-disse, mas de nada adiantou, afinal os meninos sabendo da virgindade confirmada ficaram mais alvoroçados. As meninas morriam de inveja do assedio que eu vinha sofrendo.
Os pais de meus amigos não permitiam mais minha entrada na casa deles, não podia mais ver o mais velho, comecei a ficar triste e melancólica, até que um dia o vi na rua, ele me convidou pra tomar um suco com ele e conversar, claro que aceitei. Foi mágico, poder estar com ele, sentir seu perfume, conversar, enfim ouvir sua voz um pouco mais de uns momentos. Tornamo-nos amigos, contei a ele sobre as fofocas e como estava sozinha. Passamos a nos encontrar, ir ao cinema, passeios ao parque, por fim declaramo-nos um ao outro, estávamos apaixonados. Minha mãe o adorava, e seus pais tiveram de me aceitar novamente, minha mãe foi falar com eles e desfazer a imagem que havia ficado, mostrou os exames e disse o quão constrangida ficou com tal insinuação, pois criara bem sua filha e não admitia que outros desconfiassem disso. Víamos-nos sempre que podíamos minha relação com a menina nunca mais fora a mesma. Percebia o desconforto dela em me ver com seu irmão.
Estávamos juntos já há algum tempo, resolvemos que iríamos ter nossa primeira relação, seria romântica já que era minha primeira vez, ele sabia disso e queria que fosse especial para mim, mal sabia ele que aquele dia me marcaria pra sempre, mas por outra razão. Contei a minha mãe sobre nossa intenção, ela me levou ao médico e me explicou as consequências de minha decisão, mas aceitou bem, deixou inclusive que fosse a nossa casa. Ele avisou aos pais que não dormiria em casa e acho que foi nesse momento que ela ficou sabendo o que aconteceria.
Já eram 20h30min quando ele chegou lindo, perfumado, com flores nas mãos, minha mãe já não estava em casa. Fomos para a cozinha, comemos alguma coisa, fui ao banheiro escovar os dentes e entrei em meu quarto pra me preparar, ele foi ao banheiro e foi paciente, pois eu estava muito ansiosa, porém feliz, estava com a pessoa que amava. Chamei-o, ele entrou em meu quarto, elogiou-me, deu-me um beijo carinhoso e tudo aconteceu lindamente, foi o momento mais feliz de minha vida. Mas, porém algo aconteceu, não trancamos a porta e nem percebemos que não estávamos sós, a irmã dele havia visto tudo, entrou no quarto enfurecida, gritando comigo, jamais esquecerei suas palavras nessa hora: - Você não podia deixar meu irmão em paz, já não basta toda a atenção que tens, não basta ser bonita, inteligente, amada por todos. Poxa o que preciso fazer mais pra te destruir, o boato não deu certo, o tiro saiu pela culatra. Fazer a cabeça de meus pais contra ti não te impediu de se meter com meu amor - nesse momento não entendi mais nada, afinal aquilo era uma crise de ciúmes. Meu amor?! O que ela queria dizer com isso, amor entre irmão era pecado, crime. Mas ela estava apaixonada por ele sim, eu sentia isso.
Ele indignado a mandava embora, dizia pra não intrometer-se na sua vida, que ela não era nada pra ele. Com essas palavras percebi que ele sabia do amor dela por ele. E isso era errado, fiquei confusa, triste. Foi então que a verdade me bateu no rosto. - não é porque não somos irmãos de sangue que não te considero assim, eu não te amo desse jeito já te disse -.
Nesse momento ela puxa a pistola do seu pai e desferiu três tiros em direção a ele, o sangue saltou em mim, ela me olhou e disse: - pronto agora tu não vai mais tê-lo, e não te preocupes não vou atirar em você, achas que te darei esse gostinho de morrer com ele – apontando a arma para sua cabeça atirou. Fiquei encolhida num canto, seminua, chorando. Quando percebi a polícia estava ali, os vizinhos os chamaram, levaram-me a delegacia, chamaram minha mãe, os pais deles entraram pela porta querendo saber do acontecido, eu nada conseguia dizer. A polícia constatou o óbvio e me liberou, fiquei dias trancada em casa em sair, o cheiro do sangue não saia de minha mente. Os pais deles e o filho que restou mudaram-se. E eu fiquei só. E me tornei o que sou. Nunca mais chorei, nunca mais fiquei em dúvida. Formei-me, mas pela vida não sinto maior apreço. O cheiro do sangue ainda me persegue, hoje sou médica.